terça-feira, novembro 27, 2007

Tempo

Ontem reparei que tinha o relógio atrasado, rapidamente puxei o botão e avancei no tempo, cinco minutos apenas é verdade, mas o suficiente para ficar tudo bem novamente.
Encaminhei-me, calmamente, para a janela para ingerir a última dose de nicotina diária e, enquanto o cigarro ardia fumando-se a si próprio, perdi-me no seguinte pensamento:
Regemos a nossa vida pelo tempo, apressadamente, numa correria incessante, sempre olhando o relógio e vendo que o tempo ora custa a passar, ora passa demasiadamente depressa, deixando-nos para trás, com saudade de daquilo que, num passado mais ou menos longínquo, vivemos. Era tão mais fácil se controlássemos o nosso tempo como controlamos os nossos relógios. A nossa felicidade estaria, assim, à distância de um pequeno botão. Bastaria rodá-lo para que os ponteiros da felicidade se deslocassem para a frente ou para trás, conforme a localização temporal daquele momento ou estado de alma que pretendemos reviver.
Olhei novamente o relógio, reparei que o ponteiro menor indicava as 12 horas nocturnas e que o maior apontava, orgulhosamente, para os 3 minutos, precisamente o espaço em metros que me separava da cama, local onde pretendia alcançar alguma da tal felicidade, mesmo que momentânea, num estado adormecido.
Sorri perante tal ironia, procurei-te, sem sucesso, uma última vez na face brilhante da lua e, já sob o aconchego do leito olhando pela última vez para o relógio da vida, adormeci...

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